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terça-feira, 29 de julho de 2008

POLÍTICAS E ELEIÇÕES

Política e eleições - Começa em cada um de nós o desafio de Gandhi: ‘Façamos em nós a mudança que cobramos nos outros’

Por: Patrus Ananias *

A política para os humanos não é uma opção, é um destino. Decorre da nossa sociabilidade. A política e o direito estruturam e organizam o Estado, que expressa, na sua concepção democrática, os sentimentos e desejos da sociedade, muitas vezes, ambíguos, confusos e difusos. No convívio com as pessoas manifestamos as nossas dimensões mais possibilitadoras e altruístas, o olhar e a escuta amorosos, o diálogo, a cooperação, a solidariedade, os trabalhos de construção da paz, o perdão, o amor, o cuidado com a natureza e as pessoas mais vulneráveis. Mas também revelamos os nossos sentimentos e ações mais obscuros que historicamente emergem nas mais variadas e perversas formas de violência, iniqüidade, impostura, opressão e tirania.
Aristóteles dizia que o homem é um animal político. O exercício dos direitos e deveres da cidadania, diríamos hoje da nacionalidade, é parte constitutiva intrínseca da sua humanidade: “Um homem que por natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou estaria acima da humanidade (...) e uma cidade pertence aos cidadãos em comum”. Tomás de Aquino, numa linguagem mais ampla, mais fiel ao universalismo cristão, afirmava que a pessoa humana é um ser social. A tradição aristotélico-tomista conceitua a política como sendo a arte e a virtude de promover a justiça e o bem comum. Outros mestres da ciência e da filosofia políticas são menos esperançosos e põem a política nos espaços mais nebulosos dos conflitos e do poder, disputados, muitas vezes, fora dos parâmetros morais e do interesse público. De Maquiavel a Carl Schmitt, passando mesmo pelo “desencantamento” da política e do direito de Max Webber e pela luta de classes marxista, como eixo e o motor da história, o pensamento e ação políticas dissociaram na modernidade, pelo menos em boa medida, dos grandes temas da ética e da justiça presentes nos clássicos antigos. Não obstante, a defasagem entre teoria e prática vem desde a antigüidade. Péricles, autor da antológica Oração aos mortos e que Hegel considerava o maior e o mais sublime de todos, não era nenhum líder espiritual e vivia com determinação os mais duros embates das disputas políticas e da guerra. Alexandre não seguia à risca as grandes lições de seu mestre Aristóteles. Já quase contemporâneo da era cristã, Júlio César não titubeava em colocar os seus extraordinários talentos militares, políticos e intelectuais a serviço de seus projetos pessoais e da expansão, pela força, do Império Romano. Séculos depois, entre os 700 e 800 d.C e agindo em nome do príncipe da paz, o legendário Carlos Magno fazia o seu biógrafo escrever: “A história política, com seus conflitos sucessórios e suas lutas pelo poder, dá a impressão de um tempo em que se ouve continuamente o ruído das armas”. Mesmo os estadistas mais iluminados do século 20, como Roosevelt, Churchill e De Gaulle, tiveram de ir à guerra ao nazifascismo.
A política, enfim, reflete a vida e a sociedade com seus dramas e conquistas. Os estadistas refletem a síntese de seus povos, épocas e culturas. Do poder monárquico autocrático às democracias contemporâneas, os procedimentos políticos têm avançado muito e ampliado os espaços da liberdade, dos direitos humanos e da participação popular. Somos desafiados a aperfeiçoar as instituições já existentes e construir novas formas de organização e expressão política, social e cultural. Sou daqueles que acreditam no aperfeiçoamento das pessoas e das sociedades. Mas sei também que os processos históricos são lentos e que o reino de Deus ou a sociedade sem classes não se colocam na próxima esquina.
Nesse sentido, a dimensão política do ser humano não se exprime apenas nas escolhas dos governantes por mais importantes que sejam esses momentos. Aqueles que defendem o voto branco ou nulo ficam com a responsabilidade de nos oferecer alternativas melhores e mais eficazes. O exercício da nacionalidade e da cidadania é uma opção de cada dia que começa nas atividades profissionais e relações pessoais. Há uma política nas relações familiares, nas escolas e empresas, na convivência com os vizinhos e diferentes, no trânsito, na comunidade, na relação com a natureza. Eleições: celebração da democracia. Vamos mantê-la e aperfeiçoá-la. Começa em cada um de nós o desafio de Gandhi: “Façamos em nós a mudança que cobramos nos outros”. A cidadania e a democracia se materializam em nossos gestos e ações. Sejamos melhores e o Brasil será melhor.
FONTE: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome.
Data: 26/10/2006.
* Patrus Ananias é Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

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